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Capinar, é preciso!

O norte de Angola é um mosaico de savanas e florestas, sendo que o capim cresce espontâneamente nas áreas abertas, atingindo uma altura maior que um homem, transformando assim o terreno num bom esconderijo onde o inimigo se podia deslocar, aproximando-se das picadas  e dos aquartelamentos sem ser visto, situação que não era nada favorável às nossas tropas.

No aquartelamento da Mamarrosa, o capim só terminava no arame farpado e quando teimava em invadir as instalações da fazenda do café, o patrão não descurava a capinagem do terreno como podemos ver nesta foto.

Assim, com o terreno limpo, qualquer intruso (homem ou animal) que tentasse “pisar” o risco de segurança era corrido a tiro. A segurança dos trabalhadores da fazenda era feita pelos próprios, mas com certeza que haveria um acordo tácito com os guerrilheiros, pois nunca se deu conta de eles serem atacados, nem no seu aglomerado populacional, nem nos campos de cultivo do café.

Como já aqui referiu o ex-furriel Carlos Santos, da C.Caç. 2676, que nós rendemos, até iam à caça com o capataz, mas na condição de irem vestidos à civil.

Mário Mendes


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Zaire, Angola

A Província do Zaire

Situa-se no norte de Angola e tem uma superfície de 40.130 Km2 (quase metade de Portugal Continental). É constituída por 6 municípios: M´Banza Congo (ex-S.Salvador do Congo), Cuimba, Noqui, N´Zeto (ex-Ambrizete), Soyo (ex-S.António do Zaire) e Tomboco.

O clima é tropical húmido e a temperatura média anual situa-se entre 24 e 26 graus. A etnia dominante pertence ao grupo Bakongo e a língua nacional mais falada é o Kikongo.

Pelo censo de 2004 a população da província era de cerca de 330 mil habitantes, sendo que a capital M´Banza Congo tinha cerca de 50 mil. Em 2009 a população deve ser em muito maior número, dado que há algum tempo se assiste ao repatriamento de muitos angolanos que durante a guerra foram para a RDCongo.

Pratica-se uma agricultura de subsistência e os principais produtos são a mandioca, o amendoim, a batata-doce, os feijões, a bananeira, a palmeira e o cajueiro. No tempo da guerra colonial havia também algumas plantações de café na parte sudeste, mas a produção foi diminuindo após a independência e actualmente tem uma expressão diminuta.

Quanto à pecuária pratica-se a criação de caprinos, suínos e galináceos em toda a sua extensão. Os ovinos existem essencialmente no litoral, e quanto aos bovinos não têm tradição na região por causa da ocorrência em muitas áreas da mosca tsé-tsé, tendo desaparecido completamente os poucos efectivos das experiências coloniais.

Na costa, a pesca artesanal é uma das fontes mais importantes de rendimentos de uma parte da população, e algum peixe é trocado por produtos agrícolas do interior.

Os principais rios são o Zaire, na fronteira norte, que desagua no Soyo e o M´Bridge que tem a foz em N´Zeto.

A maior riqueza da província é o petróleo que se extrai no Soyo, mas essa riqueza em nada tem servido para o desenvolvimento da província, que continua com infra-estruturas muito deficientes. Das 20 comunas só uma tem problemas de água e energia resolvidas (Musserra).

O espaço geográfico da província caracteriza-se por um mosaico de savana e de floresta densa húmida valorizada por algumas espécies de madeira dura de alto valor como o pau-preto (na época colonial havia serrações em Kelo, Tomboco e Mama Rosa, que estão paralisadas há bastante tempo).

Fonte: Portal de Angola


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O Capim

A zona onde esteve a C.Caç. 3413, na fronteira norte de Angola (Mamarrosa e Luvo) era um mosaico de floresta densa e savana e nesta crescia abundantemente o capim que chegava a ter mais de dois metros de altura.

Penetrar para além da picada era um tarefa árdua, só conseguida a golpes de catana, para abrir trilhos neste emaranhado de vegetação.

Mesmo em cima dos Unimog, a visibilidade que se conseguia era muito pouca e por isso na época seca ou do cacimbo (Abril a Outubro), quando o capim estava mais seco e as condições o permitiam, deitava-se-lhe o fogo que muitas vezes só era travado pela floresta ou pelos rios, e assim se conseguia uma vista panorâmica que nos dava muito maior segurança. Em breve voltava a crescer ainda mais forte e na época das chuvas atingia novamente uma altura considerável.

Ora este capim alto era um privilégio para o inimigo que lhe permitia montar emboscadas mesmo junto à picada e retirar-se depois sem ser visto. A propósito de emboscadas relembro uma de que foi vítima um pelotão de uma companhia que estava a cerca de 50 km de nós e que quando circulava entre S.Salvador do Congo e Buela sofreu 16 baixas (9 mortos e 7 feridos) em Junho de 1972.

Este acontecimento foi muito comentado em toda a zona e fez redobrar a atenção de todos, mas na verdade o capim alto era um grande “aliado” do inimigo, que mesmo nas “nossas barbas” conseguia ter-nos debaixo de mira sem nos apercebermos desse facto. Os primeiros tiros eram sempre do inimigo e se eram certeiros, nem nos davam possibilidade de defesa. Foi talvez por isso que cerca de metade do pelotão que sofreu a emboscada aqui referida, ficou fora de combate.

Mário Mendes


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O Inimigo invisível

O Inimigo invisível

caminhadaPelo menos uma vez por mês, a cada GC (Grupo de Combate) era-lhe incumbida a missão de ir patrulhar uma determinada zona, para detectar infiltração de “turras”. O grupo era transportado para um determinado local e a missão era percorrer alguns quilómetros à procura de vestígio do inimigo, e por vezes essa missão englobava também a pernoita no local escolhendo-se para o efeito o cimo de um morro. De dia, raramente se enxergava o inimigo, mas ao cair da noite era certo que ele atacava ferozmente,  sedento de sangue…

Este inimigo invisível a que me refiro era os malvados mosquitos que nos atacavam impiedosamente. Ou se besuntavam as mãos e a cara com um fedorento repelente, que dava algum resultado no início, e os afugentava para outro camarada, ou passava-se a noite à estalada no próprio rosto, qual masoquista.

Dirão alguns, mas porque não tapavam as mãos e a cara? Essa táctica não resultava porque os danados perfuravam a própria roupa. É verdade, até dizíamos que os “gajos” traziam a caixa das brocas, e consoante a grossura da roupa metiam a broca mais conveniente. Depois o calor africano também não dava para estar muito tapado, não havia maneira de fugir a este inimigo implacável.

barraca

Houve algumas vezes que para fugir a esta flagelação, propúnhamos ao comando que em vez de sermos recolhidos no transporte da manhã do dia seguinte, faríamos ao princípio da noite outro patrulhamento a pé até ao aquartelamento, o que por vezes era concedido, só para não dormirmos com este “inimigo”. Esta troca (por vezes com cerca de 10 Km de marcha) valia bem a pena!

(Mário Mendes)