Rio Loge/Freitas Morna

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O rio Loge nasce na província do Uíge, na zona de Quitexe, norte de Angola e desagua no oceano atlântico a norte de Ambriz, dividindo as províncias do Zaire a norte e do Bengo a sul. A ponte em Freitas Morna era a passagem e paragem obrigatória para quem se dirigia da capital Luanda para todo o distrito do Zaire, levando o abastecimento para todos os aquartelamentos daquela região, movimento esse designado por MVL (Movimento de Viaturas Logístico), um enorme “comboio” de viaturas civis e militares carregadas de todo o tipo de bens e materiais necessários ao regular funcionamento dos aquartelamentos.

Junto dessa ponte em estrutura metálica estava instalado o destacamento de Freitas Morna, para dar protecção à referida ponte, um equipamento estratégico e também para dar apoio às colunas do MVL que por ali passavam. A seguir transcrevo um excerto de quem esteve no local e que encontrei em: http://batalhao2833.blogspot.pt.

Também daqui tenho algo para contar. Este destacamento era reabastecido de 15 em 15 dias, tempo demasiado para comer pão fresco, coisa que todos nós gostávamos mas que passados estes dias ficava cheio de bolor. Embora sabendo que ia ser criticado pois os meus rapazes diziam que nos destacamentos só nós trabalhávamos e os outros gozavam daquilo que tínhamos feito, perguntei se haveria alguém que soubesse fazer fornos. A resposta, sim, foi rápida, dada por alguns dos meus companheiros e após pedir os respectivos materiais e logo que os mesmos nos foram entregues começámos a construção do nosso forno. Deixámos de trazer carcaças e começámos a trazer farinha, depois cozíamos pão quase todos os dias (pois além de um cozinheiro profissional tínhamos também um padeiro, profissões que já tinham antes de irem para a tropa) e ao mesmo tempo servia também para assarmos as nossas peças de caça.

Mais um depoimento de quem esteve em Freitas Morna e que colhi no blog: http://franquelino.blogs.sapo.pt

O meu grupo de combate foi incumbido de fazer uma comissão de duas semanas neste último destacamento, com a finalidade de proteger a ponte.

O destacamento era ponto de paragem das colunas que se deslocavam de Luanda para o norte de Angola, pelo que nos dias de passagem dos MVL’s tínhamos a preocupação de abastecer bem os nossos frigoríficos e nossas arcas com cervejas e refrigerantes para refrescar as gargantas dos nossos camaradas que por ali paravam.


 Quando não havia colunas, os nossos dias eram muito monótonos. Tínhamos o rio, a cerca de 50 metros do destacamento, que podia servir de distracção, mas estava infestado de jacarés. Ainda assim, de vez em quando, ainda arriscávamos uns mergulhos.

A pouco mais de cem metros da ponte havia umas quedas de água espectaculares. O som das águas do rio Loge a precipitarem-se de algumas dezenas de metros de altura ouvia-se a quilómetros de distância. Sei que hoje existe nesse local um hotel. Deve ser um local paradisíaco.

Quase todas as noites éramos visitados por javalis, que iam comer os restos de comida depositados na lixeira do destacamento. Chegamos a fazer esperas de madrugada para tentar caçar um daqueles exemplares mas nessas noites os bichos nunca apareciam.

Depois de quinze longos e monótonos dias regressamos novamente a Ambriz.

As fotos da primeira ilustração pertencem ao ex-combatente, ex-alferes miliciano Humberto Fernandes (C.Art 3447), datam de Janeiro de 1974 e como se pode ver são de rara beleza, um oásis no meio de um terrível isolamento.

Mário Mendes

Nota: A ponte sobre o rio Loge em Freitas Morna foi destruída em 1990 no auge da guerra civil angolana, foi reparada e está actualmente em muito mau estado interdita a carros pesados, mas segundo a imprensa angolana está a ser construída uma nova em betão.

5 thoughts on “Rio Loge/Freitas Morna

  1. Boa noite
    Tenho tentado em vão, obter no “google earth” a localização da Fazenda Mamarosa; se alguém puder ajudar agradeço.
    Uma abraço
    Carlos Santos (C.CAÇ 2676)

    • Carlos Santos. A Fazenda Mamarrosa, ficava para norte de S. Salvador, cerca de 70 km, em direcção á fronteira com o Congo . Logo a seguir, mais ou menos, 6 ou 7 km da Mamarrosa, ficava o aquartelamento do Luvo que distava cerca de 300 metros da fronteira que era feita pelo rio que lhe deu o nome: rio Luvo. As distâncias são o que a memória me transmite, e se não for exacto, não anda longe do autêntico, uma vez que por ali andei em 71 e 72. Abraço.
      Joaquim Alves C. Caç. 3413.

      • emenda : …
        por ali andei em 72 e 73

      • Depois de ler novamente é que percebi que a pergunta se referia ao “Google earth”…e que o Carlos Santos pertencia á C.Caç. que a minha foi render, e claro que sabe perfeitamente a sua localização. As minhas desculpas pelo lapso, mas a intenção era a melhor. Abraço.

  2. Quanto à destruição da ponte de Freitas Morna ela “foi pelos ares” em JAN.1976, segundo p.a.marangoni (Pedro Marangoni) no seu livro “A Opção Pela Espada”. Após a designada Batalha de Kifangondo em NOV75, as forças do ELNA (Exército de Libertação Nacional de Angola) braço armado da FNLA de Holden Roberto, retiraram-se apressadamente para Norte com as forças cubanas avançando no seu encalço, apoiadas entre eles por tanques T-54/55 russos. Descreve Marangoni no seu livro, a dado passo a fls. 115:
    “Dia 8 de Janeiro de 1976 – Ambriz deserta, via sair o último Land Rover dos comandos, que teriam a função de guardar a ponte da fazenda Loge, fazendo-a explodir assim que todos os retardatários que viessem de Nambuangongo passassem para o norte. Na estrada principal, a ponte Freitas Morna seria destruída imediatamente após a passagem do meu grupo.
    No cruzamento, deixamos escritas no asfalto, com tinta branca, mensagens aos cubanos, prometendo voltar a nos encontrar; depois cruzamos o rio Loge e por volta das 13:00h, quando foram acionadas as cargas de TNT, a mais comprida ponte que encontrara até então em Angola virou um amontoado de cascalho no leito raso e largo do Loge.”

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