MVL na província do Zaire

6 comentários

A província do Zaire era um dos principais teatros da guerra colonial em Angola e para abastecer tantos aquartelamentos espalhados pela província, a logística não podia falhar e por isso, periodicamente um comboio de viaturas percorria as picadas para levar e recolher mercadorias, tendo esta operação a designação de MVL (Movimento de Viaturas Logístico).

A escolta destas deslocações que incluiam também viaturas civis (MVC) era feita por militares e para recordar estas operações partilhamos alguns documentos disponibilizados pelo ex-alferes miliciano Humberto Gonçalves Fernandes (C.Art. 3447), que comandou algumas destas operações.

O mapa da província do Zaire com alguns percursos e horários do MVL.

Uma folha do registo dos horários das partidas e chegadas de/a diversos aquartelamentos. Pelo registo de 5 de Fevereiro de 1973, podemos verificar que o MVL passou no cruzamento do Lucossa e nesse mesmo dia um nosso Unimog (C.Caç. 3413) rebentou uma mina na picada entre esse mesmo cruzamento e a Mamarrosa, causando a morte do condutor.


Relatório da escolta ao MVL e MVC efectuado no dia 6 de Fevereiro de 1973.


Relatório datado de 29 de Janeiro de 1974, referente a escoltas do MVL e MVC.


Fotos da C.Art. 3447, Luvaca, referentes ao MVL. Na primeira foto vemos uma Berliet a transportar restos de um Unimog destroçado por uma mina. Todos os operacionais que estiveram envolvidos na guerra colonial em África viram imagens de viaturas completamente destruídas pelas minas, que ceifaram muitas vidas e causaram estropiações diversas e por isso era crucial levar para bem longe da vista estas sucatas.

NR: Agradecimentos ao ex-alferes miliciano Humberto Fernandes pela partilha das suas vivências na guerra que foi de todos. Neste espaço que também é de todos, quem quiser entrar, a porta está aberta. Recordar é VIVER!

Mário Mendes

6 thoughts on “MVL na província do Zaire

  1. Será que o ex-alferes Humberto Fernandes teve conhecimento da emboscada, que eu relato no meu blog? Esta emboscada ao MVL, teve lugar no dia 24 de Fevereiro de 1974, perto de Quiximba e causou às nossas tropas 6 mortos, vários feridos graves e 2 prisioneiros, como relato no blog. Passado tantos anos seria interessante outros testemunhos de camaradas, que tenham tido conhecimento desta trajedia.

  2. Em 15FEV1974, depois de terminar a sobreposição com a 2ª C.CAÇ .(Luvaca) do B.CAÇ.4214 (Cuimba), saí da Luvaca , com a restante C.ART. 3447 do B.ART. 3859, integrados no MVL, com destino a Luanda.
    Passei pois nesse dia 15FEV, pela última vez, no local da fatídica emboscada que veio a ocorrer a 24FEV1974.
    Regressado a Lisboa a 20FEV1974, soube em 22ABR1974, por um aspirante que foi em rendição individual para a C.ART. 3447/Luvaca e que saindo de lá acabou a sua comissão rodando para a Bela Vista (que soube por um capitão TE ), que o MVL havia sido atacado na região de Zau-Évua e que nele seguia um GC da 2º C.CAÇ .(Luvaca) do B.CAÇ. 4214.
    Não sei precisar quando tive elementos concretos que me deram a conhecer a real dimensão da tragédia.
    Sei que a dada altura andei a consultar (durante semanas) no Arquivo Histórico Militar ( a Stª. Apolónia-Lisboa) todas as histórias de batalhões/unidades aí depositadas, que haviam estado no Comando do Sector Zaire e no Sub-Sector Cuimba desde 1961 a 1975.
    Com essas consultas (com fotocópia de muita coisa) e os contactos que estabeleci com elementos dessas unidades, em dada altura, pude conhecer mais detalhes da emboscada de 24FEV1974, nomeadamente em conversa com camaradas do G.C. da 2ª C.CAC. (Luvaca) do B.CAÇ. 4214, que seguia à frente da coluna.
    Os grupos de combate presentes nesse MVL eram da 2ª C.CAC./B.CAÇ. 4214 de 73 e da 2ª C.CAÇ/B.CAÇ. 4912 de 73.
    A emboscada está referida na História da Unidade do Batalhão 4912 a págs. 41 e 42 (Cap.II) (de que tenho cópia)
    Para o que tiverem por conveniente, disponham sempre: humb_fern@netcabo.pt ou 963110548

    • Complementarmente ao que acima disse, transcrevo o que na “História do B.CAÇ. 4912” (Arq.Hist.Mil – 2ªdiv/2ªsecção/nº1/sala A/caixa 105-A) a páginas 41 consta:
      “Em 24FEV74, um Gr. IN avaliado em 35 elementos emboscou as NT em protecção à coluna de MVL no IPR TOMBOCO-S.SALVADOR na região (133030.064530) causando 6 mortos, dois feridos graves, 6 feridos ligeiros e 2 prisioneiros um dos quais foi recuperado em 271000FEV pelas NT/CECI na região (132110.063840). Capturou e danificou diverso material”.
      Ainda a páginas 41 e na 42 estão descritivos diversos, que aqui não será curial transcrever.

  3. Será que alguem se lembra que em 1967, entre Cabeço da Velha e Tope Cairam 17 militares da CART 1411 do meu Batalhão, a minha companhia CART 1412 estava no Cabeço da Velha, a 3 km dessa embuscada?

    • Caro Bernarbino,
      Creio que se está a querer referir ao trágico acontecimento ocorrido a 09-12-1966, entre o Cabeço da Velha e o Cabeço de Tope, a uma coluna auto-transportada da C. Art. 1411 do B.Art. 1854 em que perderam a vida 18 militares, houve ainda mais um ferido grave e foi feito prisioneiro um outro militar. Essa ocorrência, tem testemunhos de camaradas que a viveram de perto com relatos, nomeadamente nas páginas de “Panoramio-fotos de José Castilho” e em “Leste de Angola: à atenção da CArt 1411 do BArt1852 (Angola)”. Na altura, eu estava na Magina, integrava a C. Art. 1405 e a tragédia, bem como outra que se dizia ter acontecido na zona do Tamboco-Casa da Telha, eram muito comentadas, contudo, nunca nos foram transmitidos pormenores. À distância de quase quarenta e sete anos e dado que os contornos dos dois acontecimentos eram contados de forma muito idênticas, admito que , felizmente, o acontecimento de Tamboco, não se verificou.
      Aquele Abraço,
      Horácio Marcelino

  4. Ainda relacionado com a data de 05FEV1973, que no meu resumo de percursos do MVL, menciono. Como já disse algures, andei intrigado (faz muito tempo…) porque razão havíamos saído (a escolta ao MVL) em 05FEV1973 de São Salvador às 10H11 e não, bem mais cedo, como habitual (pelas oito e tal). E também porque é que havíamos dormido num dos aquartelamentos (M´Pozo ou Canga) e não regressado a São Salvador no mesmo dia. Tudo ficou mais claro quando em consulta neste site, percebi que tinha havido havido um rebentamento de mina AC na manhã desse dia 05FEV73 (09H30), no itinerário S. Salvador / Lucossa. Ficou explicada a nossa saída, só pelas 10H11! Mas o que soube agora, na consulta à “História da Unidade do B.CAÇ. 3849”, é que foi para mim uma surpresa – porque não me lembro, mesmo nada de na altura ter tido conhecimento do facto, ou então é mesmo o “tempo e a idade” que tem destas coisas…apaga muitas lembranças. Vamos então ao assunto, ou seja o que refere a referida “história da unidade” a pags. 289, do cap. II: “Em 050930FEV73 no itinerário S. SALVADOR/LUCOSSA (140445.055910), pela 4ª viatura (UNIMOG 404) duma coluna da CCAÇ 3413 foi accionada uma MACAR causando 1 morto, 2 feridos e destruição da viatura. Após o accionamento, grupo IN numeroso emboscou com armas automáticas e L.G.F., durante 30 minutos, aquela coluna e uma outra da CCAÇ 3372, que no momento chegava ao cruzamento da LUCOSSA. Face à reacção das NT, o IN retirou, não tendo desta última acção IN, resultado consequências para as NT”. “COMENTÁRIO – Parece ter sido uma acção esporádica da exclusiva responsabilidade do ELNA”. E foi exactamente a referência a esta flagelação/emboscada que me deixou agora surpreso, já que “certamente me terá sido referida na altura”, como comandante da escolta do MVL, que passei por lá escassas horas depois. Haja alguém que tenha estado no local, dos grupos de combates envolvidos, e que queira acrescentar a este acontecimento algo… Os meus contactos já referidos humb_fern@netcabo.pt – 963110548

Deixe um comentário