Morte na Picada

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5 de Fevereiro de 1973

Os primeiros dias do mês de Fevereiro de 1973 foram de grande tensão no seio da C.Caç. 3413.

Impotente para tomar os aquartelamentos da Mamarrosa e Luvo na fronteira norte de Angola com a RDCongo, a FNLA começou a minar a picada, tendo colocado uma mina anti-carro em 2 de Fevereiro, uma sexta-feira, que provocou 4 feridos, que seguiam a bordo de um camião Berliet Tramagal.

Três dias depois, uma segunda-feira, mais uma mina anti-carro, desta feita pisada por um Unimog e que provocou a morte do condutor, o nosso companheiro António Amaral Machado, natural da ilha de São Miguel, Açores.

A picada que tantas vezes percorremos, esta que a foto nos mostra, foi palco de sofrimento e dor e o local da tragédia ficou para sempre guardado nas nossas memórias.


Faz hoje precisamente 38 anos e aqui recordamos com saudade o nosso companheiro. A foto que se segue revela de forma brutal este acontecimento, que ceifou a vida a este jovem de 22 anos.

O nosso companheiro José Rosa Sampaio, no seu livro “O Vermelho do Capim: poemas da Guerra Colonial” que publicou em 1986, dedicou um poema ao malogrado António Amaral Machado e que aqui se evoca:

Tinhas uma mosca pousada na tua face vermelha

E os teus lábios entreabertos escondiam uma palavra

que não disseste a ninguém …

roubaram-te até o que não te pertenceu em vida,

pois os elos da morte não perdoam a inocência da alma.

Descansa que talvez aconteça que não estejas morto.

(Mamarrosa, Maio de 1973)

5 thoughts on “Morte na Picada

  1. Fui alferes miliciano da C.ART. 3447 (Luvaca) do B.ART 3859 (em Angola no sub-sector CUI de DEZ71 a FEV74).
    Ao ler, há algum tempo, os relatos das ocorrências de 02FEV73 e 05FEV73, de rebentamentos de minas nas proximidades do Cruzamento da Lucossa, logo me interroguei onde estaria eu ao certo nessas datas e que conhecimento poderei ter tido e em que extensão dos mesmos.
    Isto porque comandei a escolta ao M.V.L. de 30JAN73 a 26FEV73, conjuntamente com um G.C. da C.CAÇ. 105 (alf. mil. Costa)
    Consultados os dados disponíveis (relatórios das escoltas ao MVL, fotos e “slides” que tirei, cartas que escrevi), permitem-me perceber da “proximidade” aos acontecimentos relatados, o que aqui partilho.
    Em 05FEV73 saíu o MVL de S. Salvador às 10H11 (interrogo-me porque partimos a esta hora, quando nos outros registos – pois também estive no MVL em JAN74 – se saía para o percurso S. Salvador/M’Pozo/S. Salvador pelas 08H15/08H30, para uma jornada de 8 a 9 horas), estivemos no Cruz. da Lucossa e chegámos ao M’Pozo às 15H40.
    Em 06FEV73 saíu o M.V.L. da Canga às 05H55. O que foi para mim uma surpresa ao ler os registos, pois não me lembrava de todo o termos dormido na Canga. E tal só posso entender ter acontecido por determinação superior e derivado às ocorrências relatadas e/ou à hora tardia a que havíamos chegado à Canga (15H40) o que faria com que o nosso regressso (a realizar-se a 05FEV) se fizesse em parte já de noite.
    Tenho dois “slides” tirados no Cruz. da Lucossa, nesse período, em que surge uma Berliet carregando despojos de um Unimog desfeito/calcinado.
    Não me recordo a esta distância dos detalhes do que me foi transmitido sobre os acontecimentos, mas seguramente os suficientes para me aperceber da gravidade dos mesmos e ficar com acrescida preocupação para o resto do MVL.
    Ao dispor para o que tiverem por conveniente (slides do MVL…o que seja)

    • Sorte a vossa pois esta mina com emboscada mais as minas antipessoal estavam á vossa espera e eram dirigidas ao MVL. ìamos lançar um grupo para vos
      fazer protecção quando fomos confrontados com aquilo que ninguém queria. O MVL chegou quando já tudo tinha acontecido, felizmente para vocês.

  2. Era meu tio que infelizmente não cheguei a conhecer…

    • Fui companheiro dele e declaro que era um rapaz excepcional. Quando for a S.Miguel não deixarei de o homenagear no cemitério onde está sepultado. Paz à sua alma.

    • Era mesmo excepcional o “nosso” Machado…que infelizmente a Marília não chegou a conhecer. Que esteja em PAZ.

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